Levantamento da Abrasel mostra que aumento de preços é ameaça à recuperação do setor, que aposta em melhora no faturamento com eventos no fim do ano
A retomada consistente do setor de bares e restaurantes tem sido ameaçada por fatores persistentes, como a inflação e o endividamento. É o que aponta o mais recente levantamento nacional da Abrasel, que ouviu 1.263 empresários de todos os estados do país entre os dias 26 de outubro e 5 de novembro.
Para 61% dos empresários ainda tem sido impossível repassar a inflação para os cardápios (30% fizeram aumentos abaixo da média nos últimos 12 meses e 31% não conseguiram realizar nenhum ajuste). Outros 33% só repassaram a média de inflação – somente 6% disseram ter conseguido aumentar o cardápio acima do índice oficial).
O quadro é ainda mais complicado quando se analisa a inflação dos principais insumos, os alimentos e bebidas, que subiram 11,21% nos últimos 12 meses, enquanto a inflação no setor de alimentação fora do lar foi de 7,30% (a média geral está em 6,47%).
“O setor encontra-se em recuperação, mas a inflação é um dos principais obstáculos para uma retomada mais robusta. Veja o caso das cervejas, que aumentaram 9,97% nos supermercados, e apenas 6,63% nos bares e restaurantes", ressalta Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
"Pelo lado do cliente é bom, mais isso mostra que não estamos recuperando totalmente as margens. Hoje temos 18% dos estabelecimentos ainda realizando prejuízo, o menor índice neste ano, mas ainda assim um patamar alto”, completa.
A pesquisa mostrou também que 44% das empresas trabalharam com lucro, enquanto 37% ficaram em equilíbrio (1% das empresas não existiam em setembro, mês-base para o resultado).
Entre as empresas que realizaram prejuízo, a inflação dos alimentos e bebidas é apontada como uma das razões por 49% dos respondentes, só abaixo de queda nas vendas (53%) e dívidas acumuladas (51%) – era permitida mais de uma resposta à questão.
O endividamento também continua alto em relação aos tributos do Simples Nacional, regime tributário onde 83% dos respondentes estão enquadrados. Deste total, 46% já fizeram adesão ao Relp (programa de recuperação, também conhecido como Novo Refis). Mesmo assim, um terço (33%) disse ter parcelas em atraso.
“É urgente a permissão para que as empresas do Simples possam usar os benefícios do Perse, programa de recuperação do setor de eventos, que também incluiu parte dos bares e restaurantes. É uma questão de justiça dar acesso a todos no programa", analisa Paulo Solmucci.
"Na campanha o presidente eleito se disse motivado a ajudar os pequenos empresários, então nossa expectativa é que este tema seja incluído na PEC da transição. A grande maioria do nosso setor é de micro e pequenos negócios, que têm dificuldade hoje para honrar os compromissos e seriam muito beneficiadas por essa inclusão”, explica.
Ainda quanto ao Simples, 54% das empresas disseram ter a perspectiva de se desenquadrar do regime fiscal diferenciado se não forem aumentados os limites hoje em vigor. Uma proposta de lei no Congresso muda o teto para as microempresas e para as empresas de pequeno porte.
Para microempresas, passaria de R$ 360 mil para R$ 869 mil. E, para empresas de pequeno porte, de R$ 4,8 milhões para R$ 8,6 milhões. No entanto, a proposta precisa ser votada ainda este ano para que possa valer já em 2023.
A pesquisa também investigou os preparativos para a Copa do Mundo e as festas de fim de ano. Mais de um terço (37%) ainda espera contratar funcionários até o fim de 2022, e 22% disseram ter aumentado o quadro de funcionários em outubro. O mundial é a cereja do bolo de um fim de ano que promete trazer aumento de faturamento e alívio ao caixa dos estabelecimentos.
Entre os consultados, quase metade (45%) disse que irá passar os jogos da Copa do Mundo no estabelecimento. E 38% irão ambientar o estabelecimento com o tema futebol. Entre as iniciativas previstas, 53% disseram que irão realizar ações de marketing no período tendo a Copa como tema, 43% terão promoções especiais e 38% pretendem criar pratos ou drinks temáticos. Nem mesmo delivery deve ficar de fora: 29% preveem ações especiais para as entregas.