Campanha Óleo Não Se Mistura, da Abrasel, foi lançada visando a conscientização e ampliação do número de restaurantes que dão destino correto ao óleo de cozinha
Óleo de cozinha tem cor de ouro. Brilhante, faz os apreciadores de comidas mais substanciosas terem água na boca quando o prato traz uma fritura bem feita. Para garantir os preparos, seja nos restaurantes e bares ou mesmo nas cozinhas caseiras, são produzidos no Brasil nove bilhões de litros de óleos vegetais por ano. Porém menos de 1% dessa produção é descartada de forma correta.
A quase totalidade do produto, depois de utilizado, é despejada no ralo da pia ou nas bocas de lobo pelas ruas. O resultado é uma série de danos ao meio ambiente. Segundo dados da Sanepar, são gastos mensalmente R$ 318 mil com processos de desobstrução e limpeza para retirada da gordura da rede e nas estações, bem como tratamento do esgoto. São realizados cerca de 1.200 serviços por mês para esses fins.
Óleo não se mistura
Só 1% do total do óleo utilizado nas cozinhas tem destino correto. Foto: Shutterstock
Mas o óleo utilizado no preparo dos alimentos pode ter uma destinação mais nobre e realmente se transformar em ouro, deixando de poluir as águas. Em junho, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Paraná (Abrasel-PR) assinou um programa de parceria com o Instituto Lixo e Cidadania (Ilix).
O objetivo é sensibilizar proprietários de bares e restaurantes em Curitiba e Região Metropolitana para que passem a fazer o descarte correto do óleo utilizado em suas cozinhas. Dessa forma, será possível reverter essa matéria-prima para beneficiar catadores e catadoras de materiais recicláveis, elevando a renda dessas famílias.
A coleta correta do óleo será destinada ao projeto Bioeco Cataparaná, do Ilix. “Participamos de uma chamada da Fundação do Banco do Brasil e do BNDES e fomos aprovados para reaplicação do projeto Bioeco. Estamos no processo de levantamento dos custos efetivos da usina de refino e de aprovação da campanha de sensibilização ‘Óleo Não Se Mistura’, da agência Social Ideias. Iremos usar a campanha para, junto com a Abrasel, conquistar restaurantes e bares de Curitiba como nossos parceiros”, explica Rejane Paredes, coordenadora do projeto e assessora do Instituto.
Segundo dados do Ilix, o consumo por pessoa de óleos no Brasil é de 20 litros por ano. “Temos quase dois milhões de habitantes em Curitiba, o que nos leva a uma previsão de consumo/mês de três milhões de litros de óleos. Nossa meta é, nos três primeiros meses do programa, coletar 50 mil litros de óleo, passando depois a 90 mil. Em cinco anos, queremos que o projeto tenha coletado e beneficiado cerca de 6,5 milhões de litros de óleo.”
No que o óleo se transforma?
Biotech retira galões de óleo de cozinha em recipientes adequados e transforma em biodiesel. Foto: Divulgação.
Depois de coletado, o destino mais interessante do óleo é para produção de biodiesel. Luiz Eduardo Coelho Hauer, diretor da Biotech, uma empresa curitibana que atua no mercado de coleta de óleo desde 2013, avalia que a demanda do mercado é promissora. “A tendência é de crescimento do consumo de óleo e a coleta e destinação correta do que já é consumido é muito pequena”, esclarece.
A Biotech tem planta própria para o refino do óleo coletado e Luiz Eduardo conta que o principal cliente da empresa após o tratamento são as refinarias de gasolina e biodiesel. “Com o crescimento das políticas verdes no país, há o incentivo para maior produção do biodiesel. Mas, o óleo refinado também pode ser utilizado em indústrias de ração animal, de asfalto, de produtos de limpeza, de lubrificantes vegetais, de concreto, de vidro, entre muitas outras”.
A grande maioria dos clientes fornecedores da Biotech são bares e restaurantes, que compreendem a importância de destinar corretamente o óleo utilizado em suas cozinhas. A rede de lanchonetes Kharina é uma delas. “Fazemos essa coleta há mais de 10 anos. Acreditamos que toda empresa, principalmente de gastronomia, tem obrigação de ter responsabilidade com o consumo consciente e retorno social”, enfatiza Rachid Cury Neto, diretor na rede. A empresa é certificada pelo selo Green Kitchen e a destinação correta do óleo é um dos itens para manutenção da certificação.
Conscientização
A rede de pizzarias Abaré também mantém a coleta seletiva do óleo. “O processo foi iniciado em 2010, com destinação inicial para uma cooperativa de reciclagem em Campo Largo. Com o crescimento da rede e o aumento do consumo de óleo, foi preciso profissionalizar a coleta, que hoje é feita por empresa especializada. Destinamos cerca de 600 litros/mês e estamos em constante treinamento da nossa equipe para a importância desse processo”, esclarece Israel Costa dos Santos, supervisor da rede. Ele conta que a empresa coletora deixa uma bombona própria para o descarte do óleo e a recolhe quando está cheia.
“Na Biotech trabalhamos com recolhimento em empresas, mas também em condomínios e projetos sociais. Damos atenção a líderes de comunidades que buscam um retorno social do projeto”, explica Luiz Eduardo. Ele confirma que há, ainda, pouco conhecimento dos empresários sobre o quanto o óleo despejado na rede de esgoto polui o meio ambiente.
Além disso, existem também empresas ilegais que atuam na área. “É preciso ter as licenças do Ibama e do IAP para fazer o processo. Além do recolhimento do óleo, é preciso fazer o transporte e o refino dentro das normas, para então devolver ao mercado como insumo para novos usos”, esclarece. A coleta é feita de forma gratuita e, ainda, é dado um retorno sobre o que é coletado em forma de produtos de limpeza.
Para Luciano Bartolomeu, diretor executivo da Abrasel-PR, só em Curitiba são 600 restaurantes filiados. “Sabemos que alguns já estão adequados ao processo, mas a grande maioria não. Vamos iniciar o processo de sensibilização com a campanha ‘Óleo Não Se Mistura’ visando torná-los fornecedores de óleo para o programa do Instituto Lixo e Cidadania. Temos certeza, também, que nossos afiliados ajudarão a ampliar o conhecimento da campanha, influenciando outros restaurantes e bares em sua região”, confirma.
Hoje, a Abrasel-PR não tem nenhum dado que demonstre como é o verdadeiro cenário do descarte do óleo nos bares e restaurantes em Curitiba. “Com esse projeto teremos dados concretos para avançar na conscientização e no descarte correto.”
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