Em junho, tive a oportunidade de passar 15 dias na Amazônia. Não pesquisei muito, precisava de uma viagem “leve”, então fui sem muito planejamento, deixando as coisas acontecerem. Quando pensamos em Amazônia, a primeira coisa que nos vem à mente (depois do alerta de cuidado, caso você tenha o coração ligado a questões ambientais) é abundância. Imaginava que chegaria lá e experimentaria mil novos sabores, conheceria inúmeras frutas e legumes regionais, e me deliciaria com incontáveis pratos típicos. Não foi bem assim.
Vivi três panoramas diferentes: o centro urbano de Manaus, o clima turístico de Presidente Figueiredo e suas mil e uma cachoeiras e a realidade simples e encantadora de Tumbira – uma comunidade ribeirinha que conseguiu se reinventar economicamente para não precisar explorar madeira.
15 dias, três panoramas, seis dias sem celular, uma cultura completamente diferente, muitas experiências, oscilações de sentimentos e com certeza uma nova Gabi voltou dessa viagem, com novos olhares, objetivos e prioridades.
Em pleno junho, tínhamos uma temperatura que variava de 28°C a 35°C e uma umidade que judiava não só do nosso bem-estar, mas também da produção de alimentos. Fiquei surpresa por não encontrar frutas regionais com facilidade no mercado municipal. Os supermercados vendem frutas como maçã, kiwi e mamão a preços altíssimos e quase não se vê um tucumã.
Manaus é uma cidade com a maior concentração populacional do Amazonas e a produção alimentícia do estado não abastece toda a demanda, por isso muitos produtos vêm de fora. Os principais pontos de venda dos ingredientes regionais são feiras que acontecem apenas algumas vezes na semana em locais diferentes da cidade.
No interior, a realidade já é diferente. Nas épocas das safras os produtos são muito baratos e chegam até a estragar. No geral, encontram-se pratos típicos nos restaurantes com facilidade. Pouca coisa sem carne, e tudo com bastante mandioca e suas variações – tapioca, farofa, farinha etc. Nas aldeias, conheci os utensílios tradicionais de processamento da mandioca para obter o tucupi – um suco fermentado da mandioca que é riquíssimo em umami –, e a tapioca que, em sua versão típica, é incomparavelmente mais saborosa (em Curitiba, encontra-se na feira de orgânicos do Passeio Público, produzida pela nutricionista e culinarista Natalia Chede).
Experimentei, também, alguns insetos defumados que os povos indígenas comem e são preparados no moquém, um tipo de churrasqueira feita em madeira que mantém o peixe, insetos e farinha a uma distância que permita o cozimento lento. Conta-se que, além desses alimentos, os tupis no litoral do Brasil usavam o moquém também para assar a carne dos prisioneiros sacrificados. Como essa é uma coluna sobre gastronomia plant based (sem carne), vamos continuar focados na mandioca e preparar um cozido com um toque de defumação, uma inspiração da minha experiência na Amazônia.
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