O governo não está conseguindo fazer com que cheguem às micro e pequenas empresas os recursos liberados para combater a crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus, disse hoje Diogo Mac Cord, secretário de Infraestrutura da Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, ligado ao Ministério da Economia. Para ele, as medidas anunciadas pelo governo até agora para apoiar as empresas podem ser revistas. "Seria loucura cravar uma solução mágica ainda sem a clareza de qual será a profundidade desta crise. Estamos avaliando todas as medidas", afirmou. Já temos mais de cem ações do governo que atingem pequenos, médios e grandes. Além das 103 já implementadas, temos xis ações sendo discutidas, que vão obviamente do auxílio [emergencial de R$ 600] ao micro e pequeno empresário. Nós temos uma restrição que vamos precisar vencer, que é justamente a disputa por recursos. Nós temos a intenção de priorizar o empreendedor".
Parcela de empreendedores não tem apoio nenhum
Uma parcela dos pequenos empreendedores ainda não foi atendida pelas medidas anunciadas pelo governo até agora. No caso do auxílio emergencial de R$ 600, só têm direito os empreendedores que são MEI (Microempreendedor Individual) e faturaram até R$ 28 mil no ano passado Outra medida disponibilizada é o crédito para folha de pagamento de funcionários, oferecido a empresas que faturam a partir de R$ 360 mil por ano. Não foi criado nenhum tipo de apoio, até o momento, às micro e pequenas empresas que estão no patamar intermediário, com faturamento acima de R$ 29 mil e abaixo de R$ 360 mil.
Maquininhas para dinheiro chegar à ponta
O representante do ministério da Economia reconheceu que o dinheiro não está chegando a quem precisa mesmo depois de o governo tentar elevar a oferta de crédito, liberar depósitos compulsórios —recursos que os bancos são obrigados a deixar parados. Por isso, afirmou que o Ministério da Economia está analisando toda a cadeia do sistema de crédito para solucionar o problema. "É um problema do sistema bancário brasileiro? Falta de garantia? Capilaridade?", disse, citando exemplos de possíveis problemas que estão sendo estudados. Segundo o secretário, o governo estuda usar as maquinhas de cartão para fazer com que o dinheiro chegue aos microempresários.
Dificuldade para dar garantia aos bancos
Participantes do painel também destacaram que, quando o crédito é disponibilizado a quem precisa, os bancos pedem garantias, o que atrapalha a obtenção dos empréstimos. "Neste momento, a principal necessidade é o crédito", afirmou a gerente regional do Sebrae-SP, Iroá Arantes. Segundo ela, as empresas muitas vezes não têm avalista nem movimentação financeira ou demonstração contábil que sirvam de garantia para os bancos. "Na questão do crédito, é importante colocar que não adianta o crédito se ele for caro", disse. O senador Omar Aziz (PSD-AM) defendeu que o Tesouro Nacional seja o avalista das operações de crédito para os micros e pequenos.
"Não é falta de dinheiro. É falta de garantias. Para elas [micro e pequenas empresas] terem acesso a esse crédito, tem que ter avalista. E quem tem que ser avalista?", questionou. "Para mim, o avalista tem que ser o Tesouro Nacional". De acordo com Aziz, o Brasil tem quase quatro milhões de pequenas e médias empresas, "e não podemos deixar esse pessoal sem recurso para a economia girar". Segundo ele, a economia já vinha "cambaleando, com PIB muito pequeno". Para o professor e coordenador do Centro de Estudos em Negócios do Insper, David Kallás, historicamente, bancos públicos, como BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil acabam oferecendo crédito com linhas mais subsidiadas. "Seria o primeiro lugar que eu, como empreendedor, consultaria", disse.
Jennifer Rodrigues, da Empreende Aí, destacou que os impactos das medidas de distanciamento social criam um desafio a mais para empreendedores de regiões periféricas. "Nas periferias, a gente tem um grande desafio, porque as coisas demoram para chegar. Acho que a gente tem que se mobilizar enquanto rede, [pensando em] como a gente pode somar forças para se apoiar", disse. Ela defende que os consumidores comprem dos pequenos empresários, para "fomentar essa economia que está tão fragilizada".