Nas embalagens, elementos retrô captam a curiosidade e a memória afetiva de quem passa pelas gôndolas. Dentro delas, uma variedade de quase 120 sabores inclui desde o cupuaçu até o doce de leite condensado de panela – passando, ainda, por bebidas como a cachaça. Fundada em 2017, a marca de chocolates curitibana Choco Oz aposta nessa união de elementos inusitados e brasileiros para faturar.
Seu fundador, Rafael Nunes, diz não ter pressa de crescer – no entanto, vê a empresa, daqui alguns anos, tornando-se algo como uma Nestlé brasileira. A marca está em cerca de 1 mil pontos de venda, de conveniências a supermercados, e faturou R$ 4 milhões no ano passado. Com mais destaque no Sul e Sudeste, a meta agora é conquistar ao menos todas as capitais do país.
Da visão ao paladar
Nunes trabalhava como vendedor em uma importadora de vinhos antes de criar o negócio. Interessado pelo mercado, estudou os segredos e as técnicas da degustação da bebida. Também se interessava por doces e chegou a desenvolver alguns por puro interesse.
Um dia, recebeu de um cliente, representante de uma grande varejista, o desafio de criar uma marca. Nunes havia acabado de desenvolver e vender para a rede uma linha de pipocas, mas viu que o produto não tinha futuro. “As pipocas tinham alto volume, valor baixo e não davam rentabilidade. Como ele sabia que eu já desenvolvia chocolates, sugeriu que eu trouxesse algo novo para o mercado.”
Em parceria com a Goiabada da Christy, uma marca de Minas Gerais, ele desenvolveu uma linha de chocolates com goiabada e bananada. Criou também harmonizações com frutas brasileiras, como cupuaçu e pitanga, e sabores mais internacionais, como pasta de amendoim e caramelo com sal.
A linha com os seis sabores foi lançada no final de 2017, já com uma proposta de conquistar o olhar com embalagens bonitas e o paladar com um produto “gourmet”. “O principal diferencial foi trazer gastronomia para dentro do produto. Usei muito dos estudos sobre vinho”, diz o fundador.
Com os chocolates prontos, contudo, ele deu de cara com um problema. A rede varejista que atendia trocou de comprador, e ele ficou sem o contato e o projeto que tinha iniciado. Passou, então, a apresentar a proposta a outros players. Foi assim que chegou ao Zona Sul, uma rede de supermercados do Rio de Janeiro.
“Foi nossa primeira oportunidade de trabalhar no varejo. Logo na sequência, o diretor da Dufry provou os chocolates e entrou em contato com interesse em cadastrar a nossa linha”, diz Nunes. Desafiado pelos novos contatos, ele mergulhou fundo em novos desenvolvimentos. Entre fevereiro e abril de 2018, ampliou a linha de seis sabores para 48.
No fundo do quintal
No início, Nunes produzia os doces com a esposa, o irmão e a cunhada em um espaço cedido por uma empresa. Foram cerca de quatro meses usando as formas e a estrutura do local, até que ele juntou dinheiro para comprar equipamentos e montar seu próprio espaço, nos fundos de casa.
“Montamos uma câmara fria e fazíamos tudo de forma manual. Chegamos a ter 10 pessoas trabalhando em um espaço de 60 metros quadrados”, relembra. Em outubro daquele ano, a fábrica mudou para um espaço maior, alugado especialmente para essa finalidade.
As equipes de produção e vendas são compostas por 12 funcionários e contam com outros temporários em épocas de maior demanda, como a Páscoa. Agora, Nunes planeja a construção de uma nova fábrica em um terreno de 5 mil metros quadrados, comprado por ele recentemente.
Apesar de ter aumentado em escala, a Choco Oz segue sem trabalhar com estoque. Segundo Nunes, os chocolates são produzidos de acordo com os pedidos de cada comprador. “Como a base é quase sempre a mesma e o que muda são os recheios, produzimos e enviamos os mais frescos possíveis.” O preço dos chocolates varia entre R$ 7 para uma versão ao leite até R$ 20 para uma com bebida alcoólica.
De Curitiba para o mundo
O início das embalagens, principal “vitrine” dos chocolates, também foi improvisado. Nunes as desenhava e projetava sozinho, usando e dobrando até mesmo folhas de sulfite. Hoje elas são finalizadas por um funcionário, mas ainda passam pela imaginação e o brainstorming de Nunes. “Além de ter uma brasilidade, elas são elaboradas para se comunicar e despertar memórias no consumidor”, afirma.
O fundador acredita tanto no diferencial do produto que arrisca dizer que, hoje, ele não tem concorrentes. “Nós vendemos para um segmento que nós inventamos”, diz. Em relação ao preço, os produtos ainda saem ganhando por ficar abaixo ou pouco acima dos principais importados.
Para o futuro, Nunes vê dois caminhos possíveis: inspirar-se em marcas como Cacau Show, focadas em próprias franquias, ou conquistar o varejo como gigantes como a Nestlé. Segundo ele, o segundo caminho é o que mais o atrai. “Queremos chegar ao maior número possível de pessoas e ser uma marca de desejo” diz ele.
Por ora, a ambição se reflete em uma busca por expansão geográfica. Presente em 1 mil pontos de venda no sul e no sudeste, o fundador quer chegar a todas as capitais brasileiras – e continuar expandindo. Com mais estrutura, também mira mercados internacionais, como Chile, Uruguai e países da Europa.